Lua e Júpter Canções sob uma Figueira.

 



Lua e Júpter

Canções sob uma Figueira.

 

Cap I – Onde não se pode morar mais.

 

Lua já cursava o quarto semestre de psicologia quando completou vinte e um anos, mas essa era uma data sem motivos para comemoração havia algum tempo, e nessa idade ela viveu coisas que ninguém deveria viver em idade alguma.

Eram exatamente 6:30 quando Lua sai do banho, ela para em frente ao espelho embaçado pelo vapor, passando a mão sobre a superfície plana e molhada ela consegue ver seu rosto aparecer no reflexo. O nariz, largo, se dilata ainda mais quando os grossos lábios tentam sorrir, querendo esquecer o que se passava em sua mente, de imediato, pega uma de suas longas tranças e com rápidos movimentos, amarra em rabo de cavalo as longas madeixas de lã sintética, fazendo uma cachoeira que ia de preta em suas raízes naturais, se estendendo na cor cinza e terminava com pontas brancas até quase chegar em seu cocx. Escova os dentes e lava o rosto, passando pela porta da suíte sai direto em seu quarto, puxa uma mala roxa e empoeirada do fundo de seu guarda-roupas e joga-a sobre a cama, abrindo às pressas e escolhendo as primeiras roupas que via em seu armário para joga-las de qualquer jeito lá dentro.

Buscava os itens de higiene pessoal na suíte quando ouviu a campainha tocar, ela atravessa o corredor à passos largos e segura a maçaneta, só então repara que a única coisa que usava era uma toalha cinza ao redor do busto, mas abre mesmo assim ao escutar batidas zangadas na porta mais uma vez.

Era sua mãe e também carregava uma mala de rodinhas quase identica a da filha, exceto por ser ainda mais velha e surrada. Sua expressão mostrava descontentamento

- Você nem mesmo vestiu a roupa ainda?- Esbraveja, entrando e quase passando a pesada mala sobre os dedos da jovem.

- Eu estava arrumando a mala.- Ela volta ao cômodo para terminar o trabalho.

- Eu acordo cedo e me arrumo pra vir pra cá e você ainda está assim.- A mulher já se dirige à cozinha, abrindo a geladeira e enchendo um copo qualquer que estava sobre a mesa e esvaziando-o logo em seguida, com goles largos e sem nem mesmo respirar.

- Eu sei, mãe, mas estudei até tarde ontem e não tive tempo para terminar de arrumar minhas coisas.- Diz a garota, ainda procurando o que lhe serviria na viajem.

- E nem para começar, pelo visto.- A mulher volta a reclamar, seguindo a filha até o cômodo onde estava e ficando em pé na porta com os braços cruzados. – Mas para seus amiguinhos você sempre tem tempo, não é mesmo?

Lua revira os olhos, não dando atenção ao chilique da mãe.

- Quantas vezes eu já não te disse para não vir de pé?- Muda de assunto. – A senhora mora literalmente do outro lado da cidade.- Faz um gesto exagerado com uma das mãos para ilustrar.

- Queria que eu viesse nadando?- A mãe dá de ombros, mostrando sua familiaridade com a ironia.

- Não venha usar esses seus mecanismos de defesa ultrapassados contra mim não, senhora Sirleide.- Lua fecha o zíper da mala e vira o corpo todo na direção da mãe, levantando o dedo indicador e balançando-o em movimento de negação. - Não hoje.- ela põe a mala do lado de fora da porta do quarto apenas com um braço, deixando o corpo para dentro do cômodo, quase derrubando a mulher com o objeto que carregava, mas ela permanece na mesma posição. Lua fica de frente para a mãe, olhando-a de cima, dado a diferença de tamanho das duas. – agora, preciso de privacidade para terminar de me arrumar, com licença.- Ela bate a porta, assustando a visitante.

Sirleide, indignada, mas sem poder falar mais nada, volta para a cozinha e liga a televisão que ficava sobre uma mesinha ao lado do armário da cozinha, já que o pequeno apartamento não dava muito mais opções de cômodo. Algumas cenas já haviam passado quando Lua finalmente saiu, vestia uma calça simples, sapatos pretos já antigos e confortáveis em seus pés e um crooped amarelo que ela mesma havia feito com uma blusa antiga do irmão mais novo.

- Vamos logo, já estamos atrasadas.- A mulher salta da cadeira e desliga a TV, já pegando sua mala e se dirigindo à porta, a garota a segue e elas descem as escadas do prédio correndo.

Uma abre o portão enquanto a outra trata de buscar o carro no estacionamento. O automóvel, já muito rodado, range quando as portas se abriam e os bancos eram um pouco soltos, balançando com o movimento. Lua era a quarta proprietária, sendo o terceiro, seu pai. Passaram em um posto para abastecer e comprar o que faltava ou esqueceram antes de saírem da cidade e seguir viagem por uma estrada de chão de terra poeirenta e esburacada. Estão indo para a antiga fazenda de Hélio, pai de Lua e ex-esposo de Sirleide. As lembranças tomam conta da mente de ambas, os momentos que passaram lá, os sorrisos e a família unida, até mesmo a vez que, quando pequenos, viu seu irmão, Leandro, cair de um dos galhos da antiga figueira que possuíam no terreno, ralando o joelho e cotovelos, memoria que fez Lua sorrir, um sorriso triste e molhado com lágrimas, que ela se esforça para não deixar rolarem, principalmente na memoria seguinte, quando revê sua mãe abraçando-o em reconforto e enxugando seu rosto com o pano de prato que trazia em seu ombro. Sentia falta daquilo, como era tratada, como sua mãe era feliz na época, como ela mesma era mais feliz na época. E eram mesmo, todos eram mais felizes naquela época. Mas aquela época havia completado cinco anos naquele mês, e ninguém vive mais no passado. E esse é o motivo pelo qual a viagem está banhada em um silencio pesado e escuro, sendo quebrado apenas algumas vezes por uma pergunta ou observação vinda de uma das duas, mas isso não alivia a tensão e nem diminuía o tamanho da estrada, então ambas preferiam seguir conversando apenas com suas próprias memórias, pois, mesmo não morando mais lá, ainda podemos revisitar o passado.

Após uma troca de pneu dificultada pelo calor e cansaço, elas finamente chegam. Respirar aquele ar puro era quase revigorante, teria sido há cinco anos atrás, mas não agora, agora era só quase. Elas atravessam o grande quintal, que está coberto com mato selvagem e ervas daninhas por todos os lados, algumas vezes até agarrando a barra da calça das duas, elas chegam na área em frente a casa e colocam as malas pesadas no chão, já que as rodinhas prendiam na terra, tiveram que carrega-las nas mãos. A mulher abre a grande e pesada porta de madeira, que range ao sair do lugar, revelando uma casa escura, esquecida e triste, apesar da aparência aconchegante. O lugar está como tinha sido deixado desde a última vez que vieram, no velório. A poeira e os insetos haviam tomado conta do lugar, mas isso não seria problema por muito tempo, levando em consideração o fato de terem ido lá pelo único motivo de limpar o lugar para apresenta-lo para novos compradores. Já começaram pelos quartos, varrendo, lavando piso, tirando as teias de todos os lugares que pudessem estar e trocando os lençóis, agora a estadia já está garantida, falta todo o resto.

A arrumação aumentou a interação entre elas e diminuiu o stress quanto ao assunto, a parte seguinte foi a cozinha, para que ficasse limpa antes de prepararem algo para comer, pois já havia se passado do meio-dia, e foi o que fizeram, também em silêncio. As risadas e conversas eram quase ouvidas do lado de fora da memória de Lua, mas a comida já não cheira mais como antes. Vinte minutos para retomarem as energias e voltam ao trabalho, lavam sala e banheiros, enquanto a tarde vai se passando. Quando chega as quatro da tarde, o cheiro do café recém passado se espalha e penetra toda a casa, ainda fresca da arrumação. As únicas vezes em que uma ouviu a voz da outra foi para pedir algo e se atualizarem sobre o trabalho, mas mais nada. Sentam e tomam o café, menos doce e mais amargo que o de costume, engoliram algumas bolachas e só.

Lua se levanta e vai até a porta por onde entraram e admira o céu, que começa a ficar alaranjado de um lado e mais escuro do outro devido ao horário

- Vou dar uma volta, chego antes de escurecer.- Anuncia antes de atravessar a área, sem ouvir resposta da mãe.

O primeiro lugar para onde ela vai é a antiga figueira, que balança com o vento, acenando para ela de longe. Ela acena de volta, como costumava fazer quando criança e acelera o passo para chegar logo, na esperança de conseguir algum sossego dentro de todo aquele inferno. Ele não havia crescido tanto quanto ela imaginara, mas havia mudado bastante, alguns galhos novos, alguns faltando, e o mesmo para as pedras e buracos do chão, mas mesmo assim, a boa e velha figueira. Ela se aconchega na mesma raiz que se aconchegava tantas vezes há tanto tempo e suspira, deixando finalmente as lágrimas que ela tanto segurou saírem em um choro baio e calmo, como quem não quer ser escutado, apenas a árvore a abraça e o vento acaricia seu rosto. E por alguns minutos, Lua escuta esse mesmo vento cantando baixinho em seus ouvidos, uma canção de ninar assobiada, e, por alguns minutos, ela cochila. Acorda quando sente algo cair em seu rosto, lascas de casca e folhas, e, ao olhar para cima, grita, ao ver um completo desconhecido sentado em um dos galhos bem acima de sua cabeça.

Ela se levanta e entra em estado de defesa, levantando as mãos e se preparando para correr. Ele ainda ri da situação quando consegue descer da árvore. Fazendo brincadeira do caso, levanta as palmas das mãos, como se mostrasse estar desarmado.

- Não precisa ficar assustada, sou inofensivo.- Ele para e fica em pé, pondo as mãos de volta nos bolsos e ajeitando a postura, levantando o queixo bem desenhado com a barba por fazer. - Mas cuidado, eu farejo o medo.- E sorri, mostrando os dentes grandes e alinhados

- Quem é você?- Ela pergunta, sem baixar a guarda.

- Essa é uma pergunta interessante, assim que souber lhe responder eu entro em contato.- Ele vê a reação da garota, parecendo estar insatisfeita com a resposta. - Pode ficar tranquila, sou tão perigoso quanto um rato.

Lua olha desconfiada e desmonta sua posição devagar, voltando a tomar sua postura.

- Não faz ideia dos estragos que um rato pode causar.- Ela revela que ironia estava na lista das coisas que mais herdou da mãe.

- Se está falando da peste negra, eu faço ideia sim.- Ele responde rapidamente, surpreendendo a menina, ele vê a expressão no rosto dela e sorri. – Quer dizer que, só porque sou “da roça”, eu não posso saber ler?- Ele faz aspas com os dedos, enfatizando a expressão.

Lua se espanta ainda mais, mas só consegue disfarçar depois de algum tempo, quando o outro jovem sai de onde está e se senta na mesma raíz que ela estava antes. Ela se aproxima e fica em pé na frente dele, com os braços cruzados na frente dos peitos.

- Era você quem estava assobiando?- Ela aponta para o galho onde estava o rapaz.

- Assobiando não, não consigo assobiar com isso.- ele mostra os dentes novamente e Lua vê o aparelho que enfeita seu sorriso, peças brancas de plástico e alguns pequenos pedaços de metal aparecendo, era pequeno e a cor se confundia com a do sorriso, talvez por isso não tinha visto antes. - Estava tocando.- Ele tira uma flauta do bolso de traz do short e a mostra. É uma flauta transversal, tendo o orifício de seu bocal na lateral, de forma a ficar horizontalmente posicionado na frente do rosto, o instrumento é preto, de madeira envernizada e peças prateadas de metal.

- E consegue tocar mesmo de aparelho?

- É um pouco mais difícil, mas eu consigo, você mesmo está de prova.- Aponta para ela com o instrumento, depois o traz de volta à boca e devaneia por algumas notas enquanto Lua ouve, admirada, mas sem demonstrar. - E você, tem um nome ou algo do tipo?- Ele diz, parando de tocar.

A garota admira não só a habilidade com o instrumento, mas também o atrevimento do garoto, que, apesar de ser mais alto, aparentava ser daqueles garotos de dezessete anos mais desenvolvidos que o normal, como nas séries americanas, o que explicaria sua confiança e deboche.

- Eu sou a Lua.- Ela se apresenta e estende a mão. Seus instintos de psicanalista apitam e sua curiosidade para estudar aquele ratinho (como ele mesmo havia colocado) aumenta a cada momento que passa com ele.

- Então, senhorita, Lua.- Ele aperta sua mão. - O que está fazendo passeando por aqui? Já é quase noite e você vai ter um compromisso alí daqui a pouco.- Ele aponta para o céu, com um laranja mais escuro e algumas estrelas do lado oeste.

- Estou um pouco estressada hoje, então sai para dar uma volta antes de subir.- Ela dá de ombros, acompanhando a brincadeira. Ele parecia realmente ser um ótimo cobaia. - E agora eu posso saber o seu nome?

- Já que você pode ser a Lua, então eu serei Júpter.- Ele anuncia, com um sorriso sacana se esticando por seus lábios quase tão grossos quanto os dela.

- Hey, como assim, não está acreditando em mim?- Ela cruza os braços e volta a tomar posição de defesa.

- Você é quem não está acreditando em mim.- Se defende

- Então tá- revira os olhos, voltando a entrar no joguinho – Júpter, como o deus romano?- descruza os braços e se aproxima.

- Então você conhece?- seus olhos brilham, gosta do rumo que a conversa toma.

- O que? Quer dizer que, só porque sou uma grande gostosa, eu não posso saber ler?- debocha do garoto, ironizando sua fala anterior.

- Nisso você tem mesmo razão.- ele concorda e a vê acenando a cabeça em concordância também. - Você sabe mesmo ler.- sua expressão muda, imitando o deboche que antes brilhava nos olhos da menina, que também muda sua feição, mostrando-se altamente indignada.

- Eu não acredito que falou isso.- Ela está realmente indignada, mas não se sente humilhada, na verdade, ela ri, ainda se acostumando com as respostas certeiras.

Ele também sorri e dessa vez, Lua consegue reparar no aparelho, graças aos últimos raios de sol, que refletem nos metais. O vento sopra novamente, anunciando a chegada do outono para aquele mês, algumas folhas ainda verdes caem sobre os dreads daquele que se auto declara Júpter, que estão amarrados com uma xuxa de cabelo atrás de sua cabeça, formando um rabo de cavalo quase igual ao que ela ainda usa, exceto por ser totalmente preto e bem mais curto. Ele os traz para frente do ombro e as pontas batem na altura do peito, marcado pela blusa justa. Ele apoia as costas na árvore e segura o instrumento comprido e fino com as duas mãos, observando-o e completa:

- Mas uma afirmação não anula a outra.- ele suspende apenas os olhos, olhando para ela com as cabeça ainda um pouco baixa, esperando a resposta.

O sorriso de Lua se desfaz no mesmo instante, deixando evidente seu desconcerto. Suas bochechas esquentam e seus olhos se fixam na imagem à sua frente e, por um segundo, ela realmente acreditou estar olhando para um deus romano. Não pela sua aparência, pelo contrário, vestia apenas um short tactel verde e uma blusa marrom, estava praticamente camuflado com o ambiente, além de sua testa suada e com um pouco de terra e as mãos grossas mostrarem um trabalho pesado recentemente terminado. Mais do que isso, mais que seu corpo, olhos ou sorriso. Mais do que qualquer coisa que Lua pudesse perceber ou analisar. Ela sente-se atravessada por uma sensação que já havia ultrapassado a curiosidade, talvez a palavra “magnetismo” fosse um pouco mais apropriada para aquilo que tanto a empurrava; empurrava não, puxava; para ele.

Sua reação normalmente seria tímida, se desmontar, não ter resposta, ficar boba e não responder. Mas não foi o que aconteceu, ao invés disso, ela se aproxima ainda mais.

- Mas enquanto à você, oh, Júpter, grande deus dos trovões e deus dos deuses, o que fazes aqui tão longe de sua órbita?- nem mesmo ela reconhecera sua própria voz ao entoar esse quase cântico.

- Na verdade, é uma história engraçada.- Ele coça o queixo, imitando a pose caricata de pensativo. – É que eu fiquei sabendo que a Lua estaria passeando por essas bandas hoje, queria aproveitar para conhecê-la.

- Pois já me conheceu. E agora, o que mais gostaria de saber sobre mim?- ela avança na conversa, realmente querendo entrar na brincadeira dele.

Ela estava cansada, estressada, sua cabeça não parava por um segundo sequer. Só o fato de estar ali já era motivo suficiente para ela surtar e atacar quem quer que estivesse em sua frente. Mas naquele momento, enquanto conversa com o tal Júpter, finge ser outra pessoa, e finge também não haver nada que pudesse fazê-la querer dar tiros pro alto. Não importaria o que Júpter perguntasse, ela mentiria, pois lá ela não é mais Lua, a menina que passava quase todos os seus dias sob aquela figueira brincando quando era criança, ela é a Lua, deusa da destruição e da criação, mãe das virgens e das bruxas e senhora daqueles que clamam por ajuda.

Júpter começou a soprar algumas notas no instrumento enquanto pensa na sua próxima pergunta, sem tirar os olhos da garota. Ele para e aponta a flauta para ela, falando instantaneamente:

- O que te move?- E a encara, esperando uma resposta.

- A gravidade da Terra.- Ela responde mais em tom da pergunta, não tendo certeza do que fala e percebe que ele começa a rir

- Não nesse sentido. Do que você tem vontade? O que a move? O que lhe tira do estado de inércia?- Júpter explica, balançando o instrumento pra lá e pra cá como uma varinha.

- Você está me perguntando sobre meus sonhos?

- É uma forma de interpretar.

- Me formar na faculdade, arranjar um bom trabalho, viajar...

- E o que vai fazer depois que bater essas metas?

- Arrumar outras para ir atrás.

- Tá, e o que mais?- Júpter se entusiasma, como se ela estivesse quase dando a resposta que ele deseja.

- Mais o que?

- É só isso? Sua vida é só uma lista de coisas a fazer?

Lua fica um tempo parada pensando sobre a última fala, mas se vê encurralada e sem resposta, então engasga um pouco antes de continuar.

- Bem... sim. O que mais ela poderia ser?

- Você que deve se dar essa resposta.- leva a flauta novamente à boca e, antes de começar a tocar novamente, continua: - O que mais a sua vida pode ser, senão uma listinha de tarefas a cumprir?

E no mesmo instante, doces notas começam a subir no ar, que agora já começa a ficar mais fresco e um vento frio balança levemente algumas folhas soltas da árvore e as extremidades das roupas dos dois que agora estavam ali. Júpter, tranquilamente passa os dedos pelo objeto, apertando e soltando as chaves, produzindo a bela canção que agora é carregada também para longe dalí pelo vento. Lua segue a observa-lo, ainda perplexada e com a cabeça rodando por algum tempo, sem entender muita coisa do que o garoto havia lhe falado, mas com certeza nunca havia conversado antes com alguém que tivesse esse mesmo magnetismo para despertar sua curiosidade assim como ele, mas que mesmo assim se revelou alguém bem mais profundo do que poderia constatar em apenas uma conversa, ela se imaginou como jogando uma pedrinha em um poço e vê-la desaparecer na escuridão sem escutar o som dela batendo na água do fundo.

Sem nem mesmo perceber, Lua deixa um pequeno, porém cumprido, suspiro escapar de seus pulmões, o que a acorda de seus devaneios, e só então ela percebe que já havia anoitecido e as estrelas brilham forte no céu noturno da zona rural.

- Espera, que horas são?-

- Seis e cinquenta e sete.- Responde ele, voltando a guardar o celular estilo tijolão no bolso do short.

- Meu deus, minha mãe vai me matar.- Ela responde, já se levantando do chão e se preparando para correr.

- Eu ensaio aqui toda tarde, venha me ver de novo depois.- Júpter grita, já vendo a garota diminuir pela distância e volta sua concentração ao instrumento.

Lua chega na antiga casa, que já não aparentava mais ser tão antiga, e abre a porta devagar, tentando esconder uma vergonha e medo mortais. Ela atravessa a sala, deixando a porta fechada em suas costas e avista sua mãe na cozinha, que a chama pelo nome completo. Sua espinha gela e ela desvia o caminho de seu quarto e vai até sua mãe.

- Você disse que estaria em casa antes de anoitecer.- Ela esbraveja para a garota, que vê, tanto a fúria, quanto o medo nos olhos de sua mãe.

Comentários

  1. Uoou, quando saí o próximo capítulo ???? 😍😍

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  2. Lindo de se ler, esquentou ate o coração, maaaaaas eu ainda acho q vai ter tragedia (Naquela Noite me deixou traumatizadinho). Ansioso pelo prox capitulo.

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    1. o final já está planejado e acredito que irão gostar, mas até lá ainda tem muito a acontecer kkk

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