Querida Solidão

         


            Hoje você veio novamente. Ainda não sei bem quem ou o que és, mas sigo me perguntando: como lidar contigo?

Olho ao redor e só consigo ver você. Há quem diga que és a sorte dos espíritos livres. Não sei se concordo plenamente. Perceber-me só, preso somente à mim mesmo. Não sei se posso chamar isso de sorte. Ou de liberdade.

Tu és, afinal, a única coisa que realmente tenho. O único que realmente está comigo. E não sei ao certo se sou eu quem foge de ti ou o contrário. Você é grande, e só cabe naqueles que são tão grandes quanto. Contigo, me sinto grande também, mas tudo que é grande, pesa. E não sei se sou capaz de carregar esse peso apenas com sua ajuda.

Queria eu ser pequeno, para que não mais me incomodasse tanto. Ocupas mais espaço em minha cama do que meu próprio corpo. Meu psicólogo diz que isso não é saudável. Mas cigarros também não são e mesmo assim trazes uma carteiras deles para dividirmos quando vens me visitar.

Não me entenda mal, gosto de sua companhia, mas as vezes sinto minha privacidade sendo invadida por ti. Queria a companhia de outrem as vezes. Quem sabe de mim mesmo? Mas também não posso. Sou ocupado demais com outras coisas e pessoas mais importantes que minha própria tristeza.

Falando nela, vejo-a se aproximar pela janela. Ela sempre vem quando estamos juntos. E quando ela chega, você sempre vai embora. Então é hora de nos despedirmos.

Adeus.

Não se esqueça dos cigarros amanhã. Os meus já estão acabando.

 

 

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